Os planos do Google para criar um serviço de notícias de áudio semelhante às redes de rádio – por meio de seu alto-falante inteligente, Google Home, e seu aplicativo para dispositivos móveis com tecnologia de inteligência artificial, o Google Assistent – podem ser mais uma das frentes por meio das quais os gigantes de tecnologia minam o jornalismo. O alerta é do presidente executivo da News Corp na Austrália, Michael Miller, para quem a iniciativa do Google afetará os podcasts, que são cada vez mais produzidos pelos publishers, e emissoras de rádio.

Em dezembro do ano passado, o Google anunciou ter criado “um protótipo que levou a inteligência artificial do Google News para o contexto de voz do Assistente” em conjunto com empresas noticiosas. Em comunicado, a empresa de buscas da Alphabet disse que a experiência trará uma playlist de notícias em áudio para serem ouvidas a qualquer momento do dia, sob o comanda da voz do usuário. A empresa informou que entre os parceiros estão The Washington Post, The New York Times, Associated Press, USA Today e CNBC, entre outros.

Nesta semana, Miller afirmou em artigo no jornal The Australian, que os parceiros estão sendo pressionados a participar dos serviços de áudio do Google, mas que a gigante de tecnologia se recusa a pagar pelo conteúdo, pelo menos nesta fase, considerada experimental. “O Google resistiu às abordagens dos publishers para elaborar algum tipo de acordo comercial justo antes de lançar seu serviço de notícias de áudio”, escreveu Miller. “Ele [Google] diz que primeiro quer alcançar ‘escala'”.

O executivo afirmou que o formato dos áudios solicitados pelo Google tem por objetivo fazer com que o algoritmo da empresa de tecnologia possa reorganizar o conteúdo em um feed de notícias personalizado “para usuários individuais com base em seus interesses”. O modelo, destacou, desconecta o consumidor do produtor do conteúdo, sem fornecer receita e tráfego de referência aos sites dos publishers. A empresa de buscas, segundo o site Mumbrella, não quis comentar as afirmações de Miller.

Nesta quinta-feira (14), em texto publicado pelo site da International News Media Association (INMA), Miller disse que a estratégia do Google pode parecer inofensiva no começo, mas é uma maneira de atrair os consumidores de sites noticiosos e estações de rádio e mantê-los no ecossistema do Google. “Em outras palavras, o Google pretende lucrar com a criatividade de jornalistas e empresas de mídia sem pagar pelo privilégio”, atacou.

Nas últimas duas décadas, continuou o executivo, o Google causou graves destruições e interrupções no modelo de negócios do jornalismo. Agora, pode causar problemas em um segmento no qual a imprensa vem registrando avanços. As notícias de áudio, disse, são uma das novas áreas de crescimento para a mídia – smartphones e alto-falantes inteligentes estão incentivando os consumidores a buscar informações de diferentes maneiras. E milhões agora ouvem notícias e podcasts digitalmente em suas casas, carros ou em transporte público.

“Me preocupa que o Google queira que os editores e emissoras o ajude a criar esse novo negócio distribuindo gratuitamente conteúdo de áudio sem qualquer acordo comercial para compartilhar os benefícios dele”, insistiu Miller. “A história da internet está se repetindo”.

https://mumbrella.com.au/news-corp-boss-raises-alarm-about-googles-voice-plans-for-news-564530

https://www.inma.org/blogs/ideas/post.cfm/google-s-planned-audio-news-service-is-dangerous-for-news-industry

https://www.forbes.com/sites/kevinmurnane/2018/12/09/google-looks-to-revolutionize-radio-news-delivery/#43b1afe144a4

https://www.blog.google/products/news/collaborating-future-audio-news-assistant/

https://www.theaustralian.com.au/business/media/opinion/googles-onesided-plan-is-bad-audio-news-for-all-of-us/news-story/34efd08822a5e468d2145e10c63a8f57