PORTAL IMPRENSA – 13/07/2020

Kassia Nobre

Como trabalham os comunicadores na pandemia da Covid-19? A pesquisa, liderada pela professora da USP Roseli Figaro, analisou 557 questionários respondidos por comunicadores de todo o país, no período de 5 a 30 de abril.


O estudo mostrou que a pandemia provocou um aumento das jornadas de trabalho, com profissionais se sentindo mais cansados e inseguros com o futuro. Ainda assim, houve um grande engajamento para a realização do trabalho.  

Segundo a pesquisa, as empresas, em geral, adotaram o home office e, quando a atividade não permite o distanciamento, criaram turnos mistos, presenciais e a distância.

As principais preocupações destes profissionais foram o contágio pelo vírus, perder o emprego, ter redução de salário, perder contratos, etc. “São preocupações que atormentam e tornam as jornadas mais estressantes”, diz o estudo.

A pesquisa foi motivada pelo fato de já em março de 2020, no início de pandemia Covid-19, no Brasil, haver notícias sobre as difíceis condições de trabalho vivenciadas pelos comunicadores.

“Com a investigação em andamento, tivemos, no dia 14 de abril, a notícia da morte do jornalista José Augusto do Nascimento Silva, empregado do SBT. Além dele, outras vidas foram ceifadas depois. Esses fatos lastimáveis exigiam sabermos sobre as condições de trabalho dos comunicadores”.

O estudo é do Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho (CPCT) da Universidade de São Paulo (USP).

Metodologia
A pesquisa foi realizada por meio de um questionário com perguntas de múltipla escolha e com questões abertas para respostas discursivas, no formulário da plataforma Google.

As perguntas abordaram perfil dos respondentes (nome, idade, estado civil, filhos, local de moradia, escolaridade); dados profissionais (profissão, cargo/função, empresa, vínculo contratual); condições do exercício profissional (tipo de veículo/linguagens do trabalho, equipamentos, principais atividades, carga horária); condições de trabalho na pandemia (carga horária, providências da empresa, organização da rotina de trabalho, como está se sentindo, principais medos e depoimento).

Perfil
O total de 61,2% dos respondentes da pesquisa afirmam trabalhar como jornalistas. Há um número expressivo de comunicadores publicitários, relações públicas e professores (5%). Estes últimos vêm de uma formação em comunicação e são profissionais do ensino e da pesquisa na área da Comunicação, seja na graduação seja na pós-graduação.

Há entre os respondentes também aqueles que se declararam assessores de comunicação ou assessores de imprensa.

Crédito:Divulgação CPCT-USP


Quase a metade dos respondentes estão na faixa etária de 30 a 39 anos. Na faixa de 20 a 29 anos, o número de respondentes também é grande, 120. Ou seja, dos 19 aos 39 anos temos mais de 60% dos respondentes. Entre os respondentes, foram identificados 334 nomes femininos e 223 nomes masculinos.

Entre os respondentes do questionário, 167 declararam-se trabalhar em mídia tradicional; seguidos por 114 que declararam trabalhar em assessoria de comunicação.

Três outras declarações de respondentes em relação a local de trabalho mostram números expressivos: 85 trabalham em agência de comunicação, marketing e publicidade; 68 trabalham em instituições de ensino, pesquisa e extensão; e 55 trabalham em mídia alternativa/independente/comunitária/sindical.

Em termos gerais, o estudo mostrou que a maioria trabalha em home office em condições desconfortáveis para a família e utilizando toda a infraestrutura própria em termos de equipamentos, suporte de energia elétrica, conexão com internet, uso de softwares e aplicativos necessários para sua atividade.

Horas de trabalho
A pesquisa solicitou aos respondentes que declarassem sobre a jornada semanal de trabalho que praticam normalmente e se a jornada de trabalho foi alterada, durante esse período de pandemia.

 As respostas surpreendem ao indicarem o número elevado de horas semanais trabalhadas em tempos normais.

O acréscimo de tarefas a serem feitas e a ampliação da carga horária, devido a novos procedimentos de gestão de si e de outros no trabalho etc., aumentam a densificação do trabalho e o estresse.

Mas há também aqueles que tiveram a carga de trabalho reduzida ou mesmo cortada (caso das reduções de 8h). Para aqueles com redução da jornada de 1 a 4 horas diárias, houve também redução salarial e ou de ganhos advindos de prestação de serviços.

Entre os respondentes, 307 tiveram jornadas de trabalho alteradas durante a pandemia. Entre eles, 250 tiveram acréscimo de horas em suas jornadas convencionais e 57 tiveram redução de horas em suas jornadas convencionais.

Ritmo de trabalho
Quando perguntados sobre o ritmo de trabalho no contexto do isolamento social, devido à pandemia, 70% dos respondentes afirmam que o ritmo está um pouco mais pesado ou muito mais pesado. Os demais respondentes informam que: não mudou nada, um pouco mais tranquilo ou muito mais tranquilo.

O trabalho, para a maioria, se intensificou e a organização da rotina laboral ocupou todo o espaço e o tempo da/na casa. Para a maioria, trabalham-se mais horas, em ritmo mais intenso, em um quadro de incertezas sobre as condições de salário e emprego.

A pesquisa completa está disponível aqui:
http://www.revistatdh.org/index.php/Revista-TDH/article/view/76