FOLHA DE S.PAULO – 29/08/2019

Editorial

Grupos conservadores aliados ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, têm orquestrado ataques a jornalistas de veículos de mídia que consideram de oposição ao governo, segundo noticiou o jornal The New York Times.


Relata-se que essa rede militante compilou dossiês que reúnem postagens em redes sociais e declarações de centenas de repórteres e de seus familiares. Ao menos um nome importante do NYT, o editor Tom Wright-Piersanti, teve expostas mensagens antigas com piadas antissemitas e racistas.

Ainda que a Casa Branca afirme que nada tem a ver com a campanha difamatória, não há como dissociar essa ofensiva da insistência de Trump em tentar desacreditar o jornalismo profissional, pelo menos desde sua campanha à Presidência americana em 2016.

Repórteres que acompanham a Casa Branca têm sido alvo de diferentes formas de intimidação e constrangimento, que incluem postagens do presidente atacando o “New York Times decadente” e comícios em que apoiadores gritam palavras de ordem contra a rede de televisão CNN.

O incômodo com a imprensa é característica das mais encontradiças entre governantes —e se manifesta de modo mais agressivo, quando não autoritário, entre populistas à esquerda e à direita. No Brasil, não foram poucas as investidas petistas; na América do Sul bolivariana, a repressão não raro assumiu contornos ditatoriais.

Hoje, o estilo de Trump e de seu entorno guarda semelhanças mais identificáveis com o de Jair Bolsonaro (PSL) e das hostes que o defendem nos meios digitais. O mandatário brasileiro a todo tempo atribui interesses escusos ou preferências ideológicas aos veículos e a seus profissionais, sem vexar-se ao divulgar informações falsas.

Não se trata simplesmente de mágoa ou incompreensão do papel da imprensa —que obviamente não se exerce sem erros, pelos quais ela deve responder perante seu público ou à Justiça. O que se observa, sobretudo, é a tentativa de desqualificar qualquer crítica ou notícia negativa para o governo.

Nessa estratégia, o ataque tosco, quando não vil, quase sempre toma o lugar da contestação objetiva de relatos e opiniões.