O novo resultado positivo nas iniciativas digitais do jornal The New York Times, anunciado na quarta-feira (8), traz uma novidade em relação aos registros anteriores, em curva crescente: o sucesso comercial dos podcasts do jornal, particularmente o The Daily, programa sobre as principais notícias do dia. A New York Times Co., que edita o diário, não detalha as receitas dos programas noticiosos em áudio online, mas confirma que eles ajudaram a elevar em 19% (US$ 55 milhões) a publicidade digital no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado.

Assim como o The New York Times, jornais e revistas de vários países têm dedicado equipes específicas para podcasts e lançado programas de diversos temas, desde o noticioso geral até segmentos, tais como veículos e turismo. E os resultados do jornal norte-americano reforçam que há público para este tipo de distribuição de conteúdo, bem como marcas interessadas em anunciar seus produtos e serviços nos podcasts. No Brasil, a Associação Brasileira de Podcasters (ABPod), informa que, em 2018, mais da metade de entrevistados online (22 mil pessoas) afirmaram consumir podcasts diariamente, segundo o jornal digital Nexo.

Os resultados apresentados ontem pela New York Times Co. foram melhores do que o esperados pelo mercado. O lucro operacional no primeiro trimestre foi de US$ 34,6 milhões, semelhante ao do mesmo período de 2018, e a receita total subiu 6,1%, para US$ 439 milhões. Analistas previam lucro de US$ 27 milhões e receita de US$ 436,5 milhões

O número total de assinaturas pagas (digitais e impressa) ultrapassou 4,5 milhões. Desses, mais de 3,5 milhões pagam por acesso aos produtos online da companhia, alta de 29% ante o mesmo período em 2018, o que representa acréscimo de 223 mil assinaturas. A receita das assinaturas digitais, somada à da publicidade digital, subiu 16%, para US$ 165,4 milhões.

Ao anunciar os resultados do primeiro trimestre de 2018, o The New York Times reforçou que vem registrando avanços consolidados como veículo online. No ano passado, gerou mais de US$ 709 milhões em receita digital, o que torna provável que atinja a meta de US$ 800 milhões que anunciou para 2020. No início do ano, Mark Thompson, presidente-executivo da empresa, estabeleceu outra meta ambiciosa: elevar o número de assinantes a mais de 10 milhões em 2025.

O negócio digital compensou a queda verificada nas operações impressas. A receita de publicidade em papel caiu 11,9%, para US$ 69,5 milhões, e a de assinaturas recuou 2,6%, para US$ 16,1 milhões. Reportagem do The New York Times diz que “o futuro da empresa depende do crescimento digital, à medida que o jornal impresso se torna um produto especializado para uma base cada vez menor de leitores”.

Desafios

Antes do anúncio desta semana, executivos da companhia informaram que esperam que as taxas médias de receita de assinatura diminuam modestamente como parte da estratégia geral da empresa para atingir os 10 milhões de assinantes até 2025, estabelecidos por Thompson. Para isso, a empresa terá que registrar uma média de 203 mil novos clientes a cada trimestre.

Neste esforço, relata o The New York Times, a companhia pratica promoções com grandes descontos, atraindo novos assinantes. A estratégia, entretanto, tem seus efeitos colaterais, como a redução da contribuição de cada cliente. Nos primeiros três meses do ano, os assinantes individuais do principal produto de notícias geraram uma média de US$ 11,94 em receita mensal, significativamente menor do que os US$ 14,95 faturados por cliente durante o mesmo período há três anos.

Desde a chamada “Bump Trump”, no fim de 2016, quando o The New York Times registrou um número recorde de assinantes após a eleição de Donald Trump a presidente dos Estados Unidos, a empresa gerou uma média de 200 mil assinantes a cada trimestre. Manter essa taxa de crescimento, afirma o jornal norte-americano, será um desafio, de grau elevado em meio a um cenário crítico para a imprensa como um todo.

Na semana passada, a maior parte da equipe de notícias do Times-Picayune em Nova Orleans, por exemplo, foi demitida depois que o jornal foi adquirido da Advance Publications pela The Advocate, uma publicação da Louisiana que tem, desde 2013, uma edição em Nova Orleans, concorrente direto do Times-Picayune. O negócio, segundo o The Washington Post, não incluiu a equipe de 161 membros do Times-Picayune, que até a semana passada tunha 65 jornalistas.

 A Gannett, editora do USA Today e de outros 100 jornais, demitiu repórteres em todo o país e está se defendendo de uma oferta de aquisição hostil, lembrou o The New York Times. Organizações de notícias digitais, destacou o jornal, também enfrentam dificuldades nos últimos meses. O BuzzFeed demitiu 15% de sua força de trabalho, a Verizon anunciou um corte de 7% em suas divisões de mídia e a Vice Media eliminou cerca de 10% de sua equipe.

O próprio The New York Times convive com os problemas que afetam os demais integrantes da indústria jornalística. Os custos do jornal, por exemplo, continuaram a aumentar, em parte devido ao crescimento dos gastos com marketing, importante para divulgar os produtos de assinatura digital. A empresa gastou US$ 47,5 milhões em marketing durante o primeiro trimestre, um salto de 50% em relação ao mesmo período do ano passado.

Longe do ideal

Mesmo com todo esse esforço, a operação do The New York Times, uma das mais bem-sucedidas entre os grandes jornais do mundo – ao lado de The Wall Street Journal, Financial Times e The Guardian, entre outros – encolheu, apesar do equilíbrio financeiro do momento, desde a crise da década passada.

Em 2002, por exemplo, as receitas totais do jornal ficaram em US$ 452,5 milhões (valores não corrigidos) nos últimos três meses do ano. Mais à frente, no quarto trimestre de 2009, após profundos cortes na operação, a receita total foi de US$ 681,2 milhões. Agora, entre janeiro e março deste ano, a receita de US$ 439 milhões está muito próxima dos valores de 2002. No período anual, o jornal registrou receitas de US$ 3,27 bilhões em 2006, US$ 2,44 em 2009 e, em 2018, US$ 1,75 bilhão.

A queda na venda de jornais até o início da recuperação via digital reduziu receitas, despesas e o número de funcionários. Nesse período, o jornal vendeu parte de sede cem Manhattan (centro de Nova York) à financeira W.P.Carey & Co  por US$ 225 milhões, na modalidade de “sale-leaseback”, um misto de venda e aluguel que a permite recuperar a propriedade no futuro.  O diário perdeu patrimônio, mas ao mesmo tempo reduziu dívidas.

Desde então, o The New York Times vem em lenta recuperação, envolvendo também seu quadro de funcionários. Em 2012, por exemplo, eram 5,3 mil contratados nas diferentes áreas. No ano seguinte, com a venda de algumas operações, como o New England Media Group, o número caiu para 3,5 mil funcionários. No ano passado, ao todo, havia 4,3 mil colaboradores no The New York Times. Mais recentemente, com os investimentos ajustados à estratégia digital, o The New York Times voltou a contratar na sua principal área, o jornalismo, e hoje tem a maior redação de sua história, com cerca de 1,6 mil jornalistas.

Leia mais em:

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/05/podcast-eleva-receita-do-nyt-com-publicidade.shtml

https://www.nytimes.com/2019/05/08/business/media/new-york-times-company-earnings.html

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/12/28/O-crescimento-dos-podcasts-no-Brasil-em-p%C3%BAblico-e-diversidade

https://investors.nytco.com/investors/investor-news/investor-news-details/2019/The-New-York-Times-Company-Reports-2019-First-Quarter-Results/default.aspx

http://www.nytimes.com/2010/02/11/business/media/11times.html

https://www.niemanlab.org/2019/02/the-new-york-times-is-getting-close-to-becoming-a-majority-digital-company/

https://www.vox.com/2017/11/1/16592340/new-york-times-goal-800-million-digital-business-nyt-q3-2017