O GLOBO – 08/08/2018

PEDRO DORIA

É agora, com as candidaturas postas (ou quase), que a campanha está começando. Mas nós não sabemos, ainda, que eleição será esta. Numa campanha tradicional, a televisão é imensamente importante. Mas o Brasil de 2018 é muito distinto daquele que reelegeu Dilma Rousseff, há quatro anos. Por isso, é bem possível que a maneira de alcançar o eleitor de forma mais eficiente seja outra.

No início de 2014, segundo o Comitê Gestor da Internet, 21,7% dos domicílios tinham acesso a 3G ou 4G. Em 2016, os últimos números que temos, já estava em 25,4%. O maior crescimento se deu entre os mais pobres nas cidades. Éramos 85,6 milhões de brasileiros online ao final de 2013, segundo o IBGE. E 116 milhões, ao final de 2017. 30 milhões se tornaram digitais da última eleição para cá. E nenhuma faixa etária é mais digital do que aquele naco entre 18 e 24 anos. 85% dos jovens eleitores usam internet.

Esta é a grande questão deste pleito, e a estratégia tanto de candidatos quanto de grupos militantes mostra uma divisão. Ciro Gomes (PDT) batalhou duro para conseguir apoio do centrão. Geraldo Alckmin (PSDB) lhe passou a perna. O PT trabalhou para que o pedetista não conseguisse sequer uma força do PSB. Esta das coligações foi, provavelmente, a disputa mais selvagem entre candidatos na pré-campanha. Uma briga de foice, essencialmente, por minutos na TV.

Pois Alckmin terá 40% do tempo, Haddad (ou Lula, dependendo de quem conta) terá quase 20%, e o resto se fragmentou em segundos para um, para outro.

Os dois candidatos à frente das pesquisas sem Lula, porém, não fizeram este jogo. Jair Bolsonaro (PSL) tentou de leve, Marina Silva (Rede) nem isso. Bolsonaro e os filhos são famosos por participarem, cada um, de centenas de grupos de WhatsApp. E não há quem, nas redes ou em troca de mensagens, não tenha este ano se deparado com um leal seguidor do ex-capitão. A Rede tem, desde sempre, uma estrutura digital, embora com pouca capacidade de sair para além do grupo de simpatizantes. O PT joga nos dois campos enquanto os tucanos não demonstram muita intimidade com o online.

Os candidatos já fizeram suas apostas, criaram suas estruturas. Tempo para fazer diferente: não há mais.

A internet, porém, não entra apenas no jogo transparente. É ainda maior no submundo. Fazendas com centenas, milhares de celulares plugados no WhatsApp. Redes de páginas no Facebook com aparente inocência disseminando mentiras, alimentando a polarização. Robôs de Twitter. Esta será a primeira eleição da internet. Ou a última da TV.