O GLOBO – 28/08/2018

PEDRO DORIA

A prática de pagar por posts, como o PT está sendo acusado de fazer nas redes sociais, é corriqueira no meio publicitário. Em alguns setores, como o das instagramers de moda ou dos youtubers que atingem um público vasto, às vezes a remuneração chega às dezenas de milhares de reais. Em campanha eleitoral, a legislação a proíbe. Mas, sem que haja uma denúncia, é praticamente impossível fiscalizar. E, se há outra praxe corrente na publicidade, quando o assunto é política, é que as normas serão dribladas sempre que possível.


No caso do PT houve denúncia de dentro. Uma militante havia concordado com o esquema, receberia um valor em troca de publicar no Twitter o que, a agência lhe prometeu, seriam temas relacionados às esquerdas. Quando veio o terceiro pedido de boas palavras sobre um candidato petista, desconfiou. O acordo era explícito: tinha de ser tudo sigiloso. Claro. É ilegal. Mas, como ela sentiu que o projeto era partidário, não apenas ideológico, decidiu entregar. Desde o sábado à noite, o assunto domina as redes.

Não tem dez anos que as redes começaram a dominar os debates no ambiente digital. A promessa da internet perante o analógico é a de que ela traria precisão aritmética. O anunciante saberia quantas pessoas viram a propaganda, o colunista quantos leram seu texto e, assim, o marketing poderia enfim cumprir sua vocação, tornando-se uma ciência exata. As redes foram além, nos educando com os números de seguidores ou amigos, de retuítes, de curtires, compartilhamentos e tantos outros corações. Esses números, se parecem exatos, são só aparência. Sempre que alguém deseja, são manipulados.

Posts pagos são isso: manipulação do debate público. Quando várias pessoas com muitos seguidores no Twitter —ou noutra rede social —falam no mesmo dia de um mesmo candidato, aquilo mexe no algoritmo. No Facebook, o tema aparece para mais gente. No Instagram, idem. No Twitter, além disso tem a chance de emplacar os trending topics, lista que todos veem dos assuntos mais badalados do momento. Ou seja: posts pagos compram lugar de destaque. Fazem parecer que um determinado assunto mexe com muita gente, dão a eles um volume artificialmente inflado.

As redes estão tentando combater essas estruturas artificiais. O Twitter combate bots, os usuários que não são gente, são robôs de software. O Facebook desmantela e põe abaixo redes de compra e venda do apoio de perfis falsos. Mas quando são usuários verdadeiros que põem seus nomes à venda e não explicam aos leitores que sua mensagem pode ser trocada por dinheiro, não há solução. Ou há: um público que aos poucos se eduque e puna, com perda de credibilidade, quem compra mensagens de apoio sem deixá-lo claro. E quem põe à venda o que pensa.

O risco é só um: descobrir que a prática é tão ampla que abarca meio mundo em ambos os lados do espectro ideológico do país. A vez dos holofotes na manipulação feita pela direita passou, chegou a hora da esquerda. No fim, é muito simples. Não dá para confiar nos números das redes sociais. São uma miragem.