“É preciso entender a magnitude do problema e suas implicações, que estão em escala global. É uma ameaça à democracia, pode envolver fraudes econômicas e uma série de implicações”, alertou Müller, também doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília (UNB). Na origem da multiplicação de mentiras – e também de discursos de ódio –, ressalta o jornalista, está o modelo de negócios adotado pelo duopólio digital formado por Google e Facebook.
Do ponto vista social, isso alimenta um comportamento contrário aos princípios da democracia, no qual as pessoas tendem a evitar pontos de vista diferentes dos seus ou de seus grupos. Ao mesmo tempo, estabelece uma lógica perversa de mercado em que Google e Facebook não combatem de forma eficaz aberrações (como as fábricas de cliques ou a concorrência desleal que ambos praticam) enquanto elas resultam em receita aos seus cofres.
Müller destacou, porém, que a mesma preocupação com ganhos começou e empurrar o duopólio digital a mudanças. Há pressão de anunciantes – o boicote de marcas ao Google a partir do reiterado problema de publicidade associada a terrorismo ou a ódio no Youtube é um exemplo –, de governos, principalmente a União Europeia, e de publishers. Em paralelo, há em curso uma série de ações para valorizar e fortalecer o jornalismo qualificado e, especialmente, o jornalista. “É preciso gente para fazer jornalismo conforme as boas práticas da atividade informativa numa sociedade democrática e para executar o trabalho de curadoria para o qual os algoritmos, no atual estágio de desenvolvimento tecnológico, apresentam inúmeras falhas e ineficiências.”
O jornalista ainda chamou a atenção da própria sociedade para o problema das notícias falsas. “Quando você compartilha uma notícia falsa no Facebook, você é corresponsável pelo impacto que isso vai ter. As pessoas compartilham por impulso, mas devem se questionar se aquela notícia tem fundamento. Vai levar tempo para que as pessoas percebam e consigam distinguir com mais facilidade e profundidade o que é relevante e verdadeiro do que é falso”, afirmou.
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