A Associação Nacional de Jornais (ANJ) e seus mais de 100 veículos associados endossaram nesta quinta-feira (12), em reunião de diretoria realizada em Brasília, a iniciativa global “Integridade das Notícias na Era da IA”, que incentiva os desenvolvedores a contribuírem e garantirem que a Inteligência Artificial seja segura, confiável e benéfica para o ecossistema de notícias e para o público.
O movimento — divulgado durante o 76º Congresso Mundial de Jornais, da WAN-IFRA, no começo de maio, em Cracóvia, na Polônia — conta com a adesão de milhares de veículos de comunicação públicos e privados em todo o mundo.
Desenvolvida pela União Europeia de Radiodifusão (EBU, na sigla em inglês) e pela World Association of News Publishers (WAN-IFRA), a iniciativa propõe cinco princípios-chave para um código de práticas conjunto, convidando plataformas tecnológicas a abrir diálogo e cooperação com empresas de mídia para combater a crise de desinformação e proteger o valor de notícias confiáveis.
As etapas para preservar a integridade das notícias na era da IA abrangem os princípios de consentimento, justiça, diálogo e outras áreas de engajamento com empresas de tecnologia. “A iniciativa é um passo à frente muito relevante no sentido de estabelecer uma relação saudável entre a produção de informação jornalística e seu uso pelas plataformas de inteligência artificial. É fundamental, por exemplo, o respeito a direitos de autor”, disse o presidente-executivo da ANJ, Marcelo Rech.
Durante o congresso da WAN-IFRA, Delphine Ernotte, presidente da EBU e CEO da France Télévisions destacou a importância do espírito colaborativo verificado na série de apoios à iniciativa. “Para que a IA funcione para todos, precisamos da colaboração – dos veículos de comunicação, do público, dos formuladores de políticas e das empresas de tecnologia – e de muitas ações positivas”, disse. “Acreditamos em moldar ativamente o futuro, com foco em inovação, pessoas, valores públicos e responsabilidade pelo ecossistema da mídia pública, da mídia privada e do nosso público”.
“Organizações e instituições que veem a verdade e os fatos como o núcleo desejável de uma democracia e a base de uma sociedade empoderada devem agora se reunir em uma mesa para moldar a próxima era”, afirmou Ladina Heimgartner, presidente WAN-IFRA, chefe da Media Ringier AG e CEO da Ringier Media. “Podemos fazer isso funcionar – mas somente juntos.”
Os cinco princípios ganharam alcance extra com o apoio da North American Broadcasters Association (NABA), da Alianza Informativa Latinoamericana (AIL), da Asia-Pacific Broadcasting Union (ABU) e da associação de mídia FIPP. Juntas, essas organizações representam milhares de meios de comunicação de serviço público e editoras privadas que fornecem notícias em formatos de transmissão, impressos e online em todos os continentes.
“A integridade das notícias nunca foi tão importante para manter as pessoas informadas e as democracias saudáveis”, disse Ernotte, da EBU. “À medida que a tecnologia transforma nossas vidas, devemos sempre avaliar os benefícios e riscos para notícias confiáveis, a mídia e nossas sociedades.”
Os princípios também refletem como a mídia jornalística se tornou mais envolvida e inovadora com a IA, ao mesmo tempo em que protege a integridade das notícias em um ambiente complexo. “Um espaço de mídia funcional que agregue valor à sociedade e possa ser compartilhado é um bem comum. Ele deve ser apoiado e incentivado”, ressaltou Heimgartner, da WAN-IFRA. “Se as regras do jogo garantirem jogo limpo para todos, a IA Generativa pode se tornar um catalisador de confiança, também graças ao conteúdo de mídia profissional.”
Confira abaixo os 5 princípios da iniciativa:
1. O conteúdo de notícias só pode ser usado em modelos e ferramentas de IA generativa com a autorização do criador.
2. O valor do conteúdo de notícias atualizado e de alta qualidade deve ser justamente reconhecido quando usado em benefício de terceiros.
3. Precisão e atribuição são importantes. A fonte original da notícia que fundamenta o material gerado por IA deve ser clara e acessível aos cidadãos.
4. Aproveitar a pluralidade da mídia jornalística trará benefícios significativos para ferramentas baseadas em IA.
5. Convidamos as empresas de tecnologia a iniciar um diálogo formal com organizações de notícias para desenvolver padrões de segurança, precisão e transparência.
Encontro reúne publishers em Brasília
ANJ promoveu nesta quinta-feira (12), em Brasília, almoço com publishers de jornais de diferentes estados, líderes de entidades ligadas ao jornalismo e às liberdades de imprensa e de expressão e jornalistas. Na pauta do encontro, os desdobramentos para a indústria jornalística do julgamento, no Supremo Tribunal Federal (STF) que discute o artigo 19 do Marco Civil da Internet. Na quarta-feira (11), a Corte formou maioria, placar de 6 a 1, para alterar o regime de responsabilização das plataformas de redes sociais por conteúdos postados por usuários.
Outro tema em debate foi a suspensão, também ontem, do julgamento do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre a investigação em curso no órgão brasileiro de defesa da concorrência sobre possível abuso do Google de sua posição dominante no mercado de buscas e pela exibição de conteúdo jornalístico em suas plataformas sem a devida negociação. Para a ANJ, a suspensão, que pode se estender por 60 dias, permitirá um aprofundamento das discussões e a esclarecer os argumentos dos editores.
A associação, assim como outras entidades do setor — entre elas Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner), Associação de Jornalismo Digital (Ajor) e Associação Brasileira de Imprensa (ABI) –, defendem que o inquérito seja convertido em processo administrativo, o que permitiria apurar com mais clareza os efeitos das práticas do Google e, mais à frente, estabelecer condições igualdade concorrencial no ambiente digital.
Participaram do encontro o presidente da Abert, Flávio Lara Resende, a presidente do Instituto Palavra Aberta, Patricia Blanco, a diretora e representante da UNESCO no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, e o presidente da Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner), Rafael Soriano.
A ANJ também realizou hoje reuniões de Diretoria e do Conselho de Administração.