O ESTADO DE S.PAULO – 04/10/2019
Alessandra Monnerat
Em ao menos 70 países, “tropas virtuais” de governos ou partidos políticos organizaram campanhas para manipular a opinião pública nas redes sociais em 2018, de acordo com um relatório recente da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Este número representa um aumento de 45% em relação ao ano anterior, quando os pesquisadores identificaram 48 países com ações de manipulação. Na comparação com 2016, o salto foi de 150%.
Em 52 dos países analisados, essas tropas virtuais participaram ativamente da criação de sites de notícias falsas e de conteúdo manipulado para enganar internautas. Parte dessas campanhas de desinformação usava dados sobre usuários para mirar segmentos específicos do público, com uso de propaganda direcionada nas redes sociais.
O Brasil foi um dos países em que os pesquisadores identificaram o uso de “bots” (contas automatizadas), “trolls” (usuários que provocam brigas online) e “ciborgues” (humanos com comportamento parecido com o de bots) para atacar adversários, confundir o debate político e provocar divisões na opinião pública. No País, as principais redes sociais usadas foram o Facebook, o WhatsApp e o YouTube.
“A disponibilidade das tecnologias de redes sociais – algoritmos, automação e big data – altera enormemente a escala, o escopo e a precisão de como as informações são transmitidas na era digital”, afirma Samantha Bradshaw, uma das autoras do relatório. “As redes sociais têm sido cada vez mais analisadas por seu papel em ampliar a desinformação, incitar a violência e diminuir a confiança na mídia e nas instituições democráticas.”
O estudo A Ordem de Desinformação Global: Registro Global de Manipulação Organizada nas Mídias Sociais 2019 define as tropas virtuais como atores de governos ou de partidos políticos que têm como objetivo manipular a opinião pública online.
As formas de manipulação são variadas, e incluem, além da desinformação, o uso de “bots” para disseminar conteúdo de ódio e de exércitos de “trolls” para atacar inimigos políticos e jornalistas nas redes sociais.
Essas técnicas para moldar a opinião pública online foram utilizadas por pelo menos 26 governos para suprimir a liberdade de expressão, desacreditar vozes críticas e calar a oposição. De acordo com os pesquisadores, em alguns países a propaganda computacional é usada estrategicamente junto com ações de vigilância, censura e ameaças de violência.
“A manipulação da opinião pública nas mídias sociais continua sendo uma ameaça grave à democracia, pois a propaganda computacional se tornou parte da vida cotidiana”, afirma o professor Philip Howard, diretor do Oxford Internet Institute e coautor do relatório. “Embora a propaganda faça parte da política desde sempre, o amplo escopo dessas campanhas suscita preocupações sérias pela democracia moderna.”