O GLOBO – 17/07/2019

A primeira palavra que vem à cabeça de qualquer pessoa que tenha convivido ou trabalhado com o jornalista Rogério Daflon é gentileza. Uma característica que marcou a vida e a obra de um carioca que conseguiu reunir em uma só profissão tantas paixões: foi repórter de esportes, política, arquitetura, urbanismo e meio ambiente.


Daflon começou a carreira na antiga TVE. Depois, percorreu grandes redações, como as das revistas “Placar”, “Época”, “Veja Rio” e “Isto é” e as dos jornais O GLOBO, “O Dia” e “Jornal do Brasil”. Especialista e mestre em planejamento urbano pelo Ippur/ UFRJ, ele venceu, ao lado de Emanuel Alencar, a 1ª edição do Prêmio ISWA, em Florença, na Itália, com a série de reportagens “Desleixo sustentável”, do GLOBO, sobre a gestão do lixo no Rio.

—Era uma figura única, extremamente ética, contundente, mas doce. Uma pessoa indignada diante de injustiças sociais —lembra Emanuel.

Uma de suas grandes contribuições foi estimular as discussões sobre a cidade.

— Ele era irremediavelmente apaixonado por cidades, e, em especial, pelo Rio. Tive o privilégio de estar com ele em muitas resenhas sobre as ruas, os grandes marcos arquitetônicos, as favelas, a evolução urbana, as soluções para o futuro —diz o jornalista Tulio Brandão.

O jornalista Paulo Marqueiro lembra que a persistência era outra característica marcante de Daflon:

— Ele era um repórter obstinado pela notícia. Certa vez, para conseguir uma entrevista, ficou horas sentando num banquinho num estacionamento, à espera do então presidente do Instituto Pereira Passos. Dali saiu uma grande reportagem sobre as “ex-favelas” do Rio.

Entre os livros que Daflon escreveu estão “Bons Ventos – A trajetória vencedora da família Schmidt Grael”; “Heroísmo sem limites”, junto com João Máximo, e “’Rioativo: Geografia social do esporte”, com Felipe Awi.

—Era uma pessoa simples, excelente jornalista e entrevistador — contou o iatista Torben Grael.

Rogério Daflon morreu ontem, aos 55 anos, em consequência de um atropelamento na noite do último dia 7, na Rua Pinheiro Machado, em Laranjeiras. A Polícia Civil investiga o caso como homicídio culposo. Imagens mostram que o jornalista foi atingido por um motoqueiro, que permaneceu no local até a chegada da Polícia Militar. Depois, ele deixou a cena do acidente às pressas.

Daflon deixa dois filhos com a jornalista Luciana Neiva. Ele será velado amanhã, das 9h às 14h, na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). A família doou seu coração e córneas.