O GLOBO – 02/11/2018

SÉRGIO MATSUURA
Crescimento da conexão recua a 5,7% no ano passado. Brasil perde sete posições em ranking, para o 13º lugar

Pela internet as pessoas fazem negócios, acessam serviços e empreendem. Mais da metade da população mundial, porém, ainda está off-line. E dados de um relatório da Web Foundation, que será apresentado no próximo dia 5 durante a reunião da União Internacional de Telecomunicações (UIT), indicam uma desaceleração no avanço da rede. Impulsionadas por celulares e smartphones, a taxa de crescimento atingiu o pico de 19,2% em 2007. Desde então, começou a perder fôlego e recuou de 7,46% para 5,7%. Isso torna praticamente inviável atingir a meta da ONU, de oferecer acesso barato à internet nos países menos desenvolvidos até 2020.

Em 2014, a UIT — agência da ONU especializada em tecnologias de informação e comunicação —previu que, três anos depois, mais da metade da população mundial estaria conectada. No entanto, apenas 3,6 bilhões dos 7,6 bilhões de habitantes do planeta estão na rede. Segundo Sonia Jorge, diretora executiva da Alliance for Affordable Internet (A4AI, iniciativa da Web Foundation), a estimativa atual é que somente em maio de 2019 metade da população mundial estará on-line.

—A desaceleração se deve a vários fatores, sendo o custo um dos principais. Pelos preços atuais cobrados pelo acesso à rede, é muito difícil conectar os desconectados —analisou Sonia.

Em relatório publicado nesta semana, a A4AI destaca que a “incapacidade para pagar por uma conexão básica de internet continua uma das maiores —e solucionáveis —barreiras”. No mundo, mais de 2 bilhões de pessoas vivem em países onde pacotes básicos são inacessíveis para a maioria da população. Entre os 61 países de renda média ou baixa pesquisados, apenas 24 alcançaram a meta conhecida como “1 para 2”, de1GB dedados móveis custando até 2% da renda média, considerada o corte para acessibilidade. Na média geral, os pacotes de 1 GB de dados móveis custam 5,5% da renda mensal.

CUSTO MAIOR PARA POBRES

O estudo avalia a acessibilidade à internet considerando a infraestrutura existente e os cronogramas dos projetos de expansão; e as taxas de adoção da banda larga e as políticas de ampliação do acesso. No ranking, o Brasil caiu para a 13ª posição este ano. Em 2016, estava na 2ª e, no ano passado, na 6ª.

—O Brasil tem sido vítima da crise política e econômica —disse Sonia.

O Brasil já superou a meta “1 para 2”. Mas Sonia ressalta que isso não se aplica aos mais pobres. Enquanto para os 20% mais ricos o custo de 1 GB representa 0,6% da renda média mensal, entre os 20% mais pobres é de 9,4%, quase cinco vezes o valor considerado acessível. Além disso, falta infraestrutura em regiões remotas, onde o investimento da iniciativa privada é inviabilizado pelo baixo retorno.

— O Brasil precisa pensar em como criar parcerias para áreas não atraentes para o mercado, para que as operadoras possam chegar às regiões descobertas pela rede —disse Sonia. —A exclusão digital afeta exatamente a parcela da população que mais teria a ganhar com a internet, com acesso a serviços públicos e a ferramentas de geração de renda.

Como o entregador Ojarçon Tenorio, de 40 anos, que tem um plano semanal, mas dificilmente consegue ver vídeos:

— Um serviço melhor não cabe no meu orçamento. Recebo na faixa de R$ 1.500, não posso gastar muito com isso.