PODER360 – 14/09/2019

JULIANO NÓBREGA

ACESSO À INTERNET ENTRE OS EXCLUÍDOS — O CRIATIVO E A TECNOLOGIA — STAKEHOLDERS E A PRIVACIDADE — ? O NOVO ROCK BRITÂNICO
Bom dia!


Plantão da guerra do streaming: a batalha por aqui promete. Amazon Prime chegou ao Brasil, e só pelo Kindle Unlimited já vale os R$ 9,90 — milhares de livros incluídos, entre eles a série Harry Potter \o/, e revistas como a Veja e a Super Interessante. Mas tem filmes, músicas e, sim, frete grátis. Pelo mesmo preço, o Apple TV+ chega em novembro e o Disney Plus, em 2020. Não custa lembrar que, além de Netflix, já tínhamos por aqui serviços semelhantes de marcas conhecidas como HBO, Telecine, Globoplay… Haja tempo pra ver tudo isso, né?
Então vamos ao que vi de mais interessante na semana. Boa leitura!

1. IDOSOS, ANALFABETOS, NORTISTAS E SEM RENDA: ONDE A INTERNET MAIS AVANÇOU NO BRASIL
Saiu a TIC Domicílios 2018, mais completa pesquisa sobre uso da internet no país, ferramenta fundamental para quem planeja comunicação por aqui. São mais de 23 mil entrevistas domiciliares em todo o Brasil, com uma série histórica que chegou a 10 anos. Não tem paralelo.

O grande número: 70% dos brasileiros são usuários de internet (a pesquisa considera apenas quem tem mais de 10 anos). Que é o mesmo que dizer que 30%, ou 54 milhões, não têm acesso.

Analisando os números detalhados (tem um incrível visualizador), o que chamou minha atenção: acesso à internet parece já ter saturado as classes mais altas, as regiões mais ricas, os brasileiros mais educados e mais jovens. De 2017 para 2018, o avanço mais significativo se deu entre os excluídos:

Região Norte: de 58% para 70% (o mesmo que a média nacional, aliás, ultrapassando o Nordeste);
Analfabetos: de 9% para 14% (baixo, mas ainda assim um salto);
Mais de 60 anos: de 25% para 28% (o crescimento maior, na verdade, foi entre quem tem de 45 a 59 anos);
Não tem renda: 54% para 62%;
Classe D e E: 42% para 48%.
O que isso significa? Ainda mais complexidade para quem se comunica. Um público cada vez mais heterogêneo e espalhado fazendo uso diário das redes sociais, buscando informação no Google, compartilhando conteúdo (tem dado sobre tudo isso na pesquisa). O que exige mais customização da mensagem para atingir o alvo.

Vale a pena explorar todos os indicadores, sempre divididos por domicílios e indivíduos. Aqui tem uma apresentação que resume as principais informações.

Também já atualizei minha compilação de dados sobre mídia. Confere lá!

Com base na mesma pesquisa, o Nexo fez uma excelente análise sobre os brasileiros que nunca acessaram a internet. “Indivíduos e comunidades fora da rede ficam alijados de inúmeras facilidades em áreas como procura de emprego, serviços públicos, conteúdo educacional, cultura e comunicação.” Pois é.
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2. O CRIATIVO PRECISA DA TECNOLOGIA
Após quase duas décadas em agências de publicidade, Nick Law agarrou uma “oportunidade única na vida” para trabalhar no marketing da Apple. Nessa entrevista (e também numa palestra no SXSW) ele falou algumas boas verdades sobre o mercado da comunicação que merecem uma reflexão:

Os criativos precisam gastar tempo explorando tecnologia. “A tecnologia é uma condição para a criatividade”. Quer ver? Quando se imagina uma grande ideia, já se pensa na execução. E a execução exige um meio. E o meio é tecnologia — ou televisão não é tecnologia?
Estão usando “tecnologia” apenas como uma palavra diferente para “novo”.
A “big idea” não vai salvar o mundo enquanto as agências continuarem a terceirizar as soluções de tecnologia. E assim não se criam novas fontes de receitas, apenas “stunts” para impressionar clientes e ganhar prêmios.
Tudo é digital. “Sempre pensei que o título ‘chief digital officer’ era absurdo, é o mesmo que dizer ‘chief air officer’”. “O digital é agora uma membrana sobre a sociedade. É central na maneira como operamos como seres humanos.”
E o que as agências devem fazer? “Construir novas capacidades”. “Eles precisam incubar [as novas capacidades], mas, o objetivo final deve ser conectá-las a todo o modelo e integrá-las.” ??
Vale ler a entrevista toda. E também assistir a palestra que mencionei.

(Dica de leitor? Não, de Sir Martin Sorrell, que mencionou a entrevista na sua participação do Dmexco ?).

3. LISTAS DE STAKEHOLDERS NÃO FEREM A LEI
Uma empresa fabrica um produto que enfrenta resistência de autoridades, ONGs e comunidade científica. Essa empresa contra uma agência de PR. Essa agência monta uma lista de stakeholders, catalogando a posição de todos sobre o produto e sugerindo como atuar em cada caso.

Pois é. No começo deste ano, matérias na imprensa francesa acusaram a Bayer e a agência de PR americana FleishmanHillard de ferir as leis europeias de privacidade ao fazer exatamente isso — uma lista de stakeholders para o glifosato, produto da Monsanto, que havia sido comprada pela Bayer no ano passado.

O assunto é particularmente relevante no Brasil diante da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que entra em vigor em 2020.

Após cinco meses de investigações, acaba de sair a conclusão da investigação independente conduzida pela Bayer. Para o escritório de advocacia que revisou todos os processos, não houve nenhuma ilegalidade no trabalho. O Conselho de Relações Públicas alemão já havia chegado à mesma conclusão.

“Não achamos nada ilegal no uso de listas para entender os relacionamentos e questões envolvidas em um debate de política / regulamentação como as discussões sobre a renovação de aprovação da União Europeia ao glifosato. (…) Não há dúvida de que o trabalho realizado e as listas de stakeholders criadas foram detalhadas, metódicas e projetadas para advogar com firmeza as posições da Monsanto junto às partes interessadas e ao público. Mas (…) não encontramos evidências para apoiar as alegações da mídia francesa sobre a ilegalidade das listas.”

Ufa, né? Até o momento, não houve nenhuma acusação formal de autoridades francesa contra a Bayer.

Vale ler o relatório completo da investigação, que inclui uma detalhada descrição da montagem das listas nesse caso. Uma verdadeira aula de gestão de relacionamentos.
4. O CEO SE POSICIONA
Falamos nesse espaço sobre como os CEOs estão sendo empurrados para tomar posições públicas, como se fossem políticos. Pois na semana passada vimos um caso emblemático por aqui: o executivo chefe da Companhia das Letras, Luiz Schwarz, divulgou uma dura nota sobre os casos recentes de apreensão de livros por autoridades.

Não apenas o CEO falou, como a empresa divulgou o posicionamento ativamente em seus canais proprietários. A decisão, diz Schwarz, “tenta colocar a sociedade brasileira em tempos medievais, quando as pessoas não tinham a liberdade de expressar suas identidades”.

Não é uma estratégia sem risco. A marca foi alvo de ataques nas redes sociais. Provavelmente os responsáveis pela comunicação calcularam que, para o seu público alvo, o benefício seria maior do que o eventual prejuízo. É a nova realidade.

Detalhe: a Penguin Random House, maior grupo editorial do mundo, detém 45% do Grupo Companhia das Letras.

Ainda nesse tema, vale ler o primoroso editorial da Folha escrito por Otavio Frias Filho em 1986 sobre o episódio da proibição do filme “Je Vous Salue Marie”, de Godard. “[Sarney] Humilhou os cidadãos, tratando-os como se fossem incapazes de decidir, por eles mesmos, o que querem ver ou não.” Íntegra.
5. ? CRUMBLE OU A TORTA DE MAÇÃ MAIS RÁPIDA DO MUNDO


Mais um sucesso dos churrascos, agora na sobremesa. Essa receita da Heloísa Bacellar leva 40 minutos para preparar e mais uns 25 assando. São basicamente duas etapas: o recheio de maçãs, suco de limão e gengibre, e a cobertura crocante de farinha com manteiga e nozes. Moleza! Perfeita bem quente com uma bola de sorvete de creme.

Aqui tem todos os ingredientes e o modo de fazer (em vídeo também). Gosto de usar limão siciliano e muitas raspas, para dar aquele azedinho. E não uso uva passa! ?
PS: assina logo o canal da Helô no YouTube. Não tem erro.

6. ? O NOME DELE É FENDER
A lembrança de “Dancing In The Dark“, o hit de Bruce Springsteen, foi imediata quando ouvi o último single de Sam Fender, “The Borders“. De fato, o Guardian chama este inglês do norte de uma mistura de Killers com Springsteen.

Mas é mais do que isso. É seguramente o que ouvi de mais interessante no rock britânico nos últimos anos. Aos 22 anos, acaba de lançar seu primeiro álbum.

“Dead Boys” trata sem meias palavras dos altos índices de suicídio de jovens em Newcastle. “Ninguém poderia explicar todos os garotos mortos na nossa cidade natal”. É belíssima.
Vale lembrar: estamos no mês da prevenção ao suicídio. É o “setembro amarelo“.
Seu melhor momento talvez seja “Hypersonic Missiles“, que empresa título ao álbum. Sam explica: “É uma canção de amor pouco ortodoxa. (…) No meio do caos está o amor e a celebração (…), uma pequena noção de que, aconteça o que acontecer, essas duas pessoas vão se divertir, independentemente dos tiranos que governam seu mundo, e independentemente da destruição iminente desses ‘mísseis hipersônicos’”. Demais, né?
Essa playlist tem sua “obra completa” (15 músicas). Então vamos nos divertir com Sam antes que o mundo acabe!